quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Criatura

Acho que eu descobri meu problema com (os meus) aniversários. Eu não gosto de ser o centro das atenções. A não ser quando tenho um palco pra um ballet muito bem ensaiado. O problema é que eu não nasci para ser presenteada (e não há - quase - nenhum drama nisso) e sim presentear. Nasci para mostrar pessoas incríveis, obras incríveis, acontecimentos incríveis. Bons ou não. Que o mundo saiba disso. Acredite ou recuse isso. Eu nasci para fazer os outros brilharem. Para ajudar, mostrar, divulgar, reclamar, melhorar.  Tão autocrítica, que eu não suportaria uma profissão que o foco não fosse o outro. E apesar de tudo, tão (m)eu. Cada construção de pensamento, palavra no lugar ou fora dele. Eu sou o que as pessoas são, fazem, pensam, sentem, querem. Uma vez, um amigo me disse que achava publicidade uma das piores profissões, porque a pessoa não fazia nada próprio. Daí me lembrei da palavra que Lucas me ensinou: Poiesis... “a minha criação, na qual crio a mim mesmo na medida em que crio no mundo”. Tudo que fazemos é criação. E esse tanto de vida (preguiçosa, talvez, mas ainda assim vida) só é possível por vocês, por suas criações, minhas, nossas. 

Talvez falte coragem para o foco ser eu. 

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Gente de 25 de agosto

São Paulo, 13 de agosto de 2014

Gui,

Te escrevo porque quero me explicar. A gente se entende se explicando. Ou eu, pelo menos. Às vezes não entendo nada, também, mas é uma tentativa. Ou uma exposição e reconhecimento de problemas e isso já é um grande avanço. Além disso, eu sei que você vai tentar me entender. Se não concordar, você entende. Sempre. E sabe, tem poucas pessoas dispostas a me entender ao meu redor. Eu tenho sentido falta de colo, carinho, declaração, compreensão, abraço. Sei que é bem autoajuda, só que é muito fácil me amar quando mereço. Eu queria que alguém pegasse na mão, me colocasse no colo e dissesse “vai passar”. Mesmo eu estando insuportável e tendo plena noção disso. Não quero isso de você. Até porque somos sem jeito demais pra contatos físicos. Mas, no fundo, bastaria um olhar atento – o que eu acho que estou tendo agora. Literatura me salva.
Eu lembrei de você especialmente porque saí escutando The XX e aí passou a música do seu filme. Tava um frio do caralho. E aquela música, e aquelas pessoas, e tudo, sabe. Cenário de início de curta que termina com final triste. Eu estava passando muito mal. (Ainda estou, mas agora tenho coberta, pelo menos). Um mal equilibrado... pela primeira vez na semana, meu corpo se equilibrava com todas as minhas dores interiores. Tudo doeu. Tudo. Da pontinha do pé ao fio de cabelo. Da pontinha do nariz até o núcleo da minha alma - se é que isso existe. E eu não tinha forças para chorar. Sabe aquele choro pra dentro? Orgulhoso, inadmissível, dolorido.
Os últimos dias foram ruins, Gui. (Eu sei que você não gosta muito desse apelido, mas ainda não consegui encontrar um outro). Uma eterna montanha russa que eu não sei onde vai parar. E eu estou com medo. Desde que a gente conversou (há sete meses atrás), muita coisa aconteceu. Muita coisa que ninguém entende, não quer entender ou não se importa. Aqui dentro, inclusive. 
Num momento muito triste da minha vida, foi você quem me ajudou colocar os pontos no i. E só eu sei o quanto isso foi necessário e bom. Sinto falta de pessoas como você aqui. As pessoas são muito profissionais, quadradas, “é a vida”, sabe? Aquilo de vou pra São Paulo ser perfeita. O problema é esse. Acho que o erro sou eu. Eu sou igualzinha todo mundo e não admito.
Desculpa, você não vai entender nada. Só que pra eu falar assim, tu sabe: é amor. É ele, sempre. A pessoa que me ensinou chorar de alegria. Agora tá doendo, Gui. Menos que aquela vez, mas ainda é chato, é urgente. E eu não sei o que fazer. Poucas pessoas entenderiam, poucas pessoas acompanharam, poucas pessoas sabem. Talvez eu só queria mesmo colocar aquele plano da dança em prática e deixar isso ser. Deixar isso explicar. O problema é que preciso me cuidar. Minhas forças estão acabando e eu sou orgulhosa demais pra pedir ajuda.
Vamos tomar um vinho, quando der. Enquanto isso, te escrevo minhas histórias – aqui, na cabeça – pra quem sabe, um dia, te contar. Eu espero que você esteja bem. Sempre gosto de saber de você.

De mim, que tanto te admiro... toda sorte do mundo!
Obrigada,

Fernanda  

P.S.: Eu odeio meu aniversário, não sei se você também... torço para que esteja sobrevivendo ao inferno astral.